Ecrãs

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Parentalidade

Ecrãs

Os membros da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria têm notado, na sua prática clínica diária, durante a última década, o impacto da utilização de ecrãs tácteis na saúde das crianças e no seu neurodesenvolvimento. Assim, procurando utilizar a evidência científica disponível, pretendem alertar os pais, educadores e sociedade civil para os riscos dos mesmos, emitindo recomendações de utilização destas tecnologias de forma mais saudável em idade pediátrica.

A evidência científica disponível aponta para riscos não negligenciáveis associados ao uso indevido de ecrãs e tecnologia digital ao longo das várias etapas da idade pediátrica. Salienta-se que é particularmente nociva a exposição precoce à tecnologia digital quando os conteúdos são selecionados de forma autónoma e, muitas vezes, aleatória (ex. YouTube, TikTok, Instagram), sem interação com o adulto, sem filtros de segurança, conteúdos pouco didáticos e sem respeitar limites de tempo ajustados à idade.

Os primeiros anos de vida são aqueles em que ocorre no bebé a maturação do sistema nervoso para desempenhar funções características da sua espécie. Para que este neurodesenvolvimento ocorra, é fundamental a interação com o meio. Assim, está comprovado que a utilização precoce de ecrãs condiciona diversos obstáculos:

  • Aumento do tempo em atividades sedentárias, com limitação do desenvolvimento motor por menor tempo dedicado a jogos tradicionais, atividade fisica, utilização de lápis, tesouras, etc;
  • Dificuldade em focar a atenção, na inibição de impulsos, em gerir adversidades e enfrentar momentos de tédio (interferindo com o desenvolvimento da criatividade), com aumento do risco de comportamentos de hiperatividade e défice de atenção, bem como de comportamentos de oposição e desafio;
  • Redução do tempo de interação com adultos e outras crianças, levando a um aumento do risco de comportamentos sociais evitantes e atraso no desenvolvimento de linguagem e empobrecimento lexical, sendo tanto maior o impacto quanto mais precoce a exposição a ecrãs e tecnologia digital;
  • Aumento do risco de fadiga ocular digital, que inclui sintomas como olho seco, visão desfocada, miopia e cefaleia;
  • A exposição a ecrãs, especialmente antes de dormir, afeta negativamente a qualidade do sono das crianças; quer pela intensidade dos estímulos, quer pela luz azul emitida pelos dispositivos, ocorre supressão da produção de melatonina (hormona que promove o sono), dificulta assim o sono impactando negativamente o ciclo sono-vigília;
  • Muitas das aplicações e conteúdos das redes sociais aumentam o risco de a criança se ver de uma forma fisicamente inferior às imagens que visualiza (muitas vezes, manipuladas e com filtros), condicionando o aumento do risco de perturbações do comportamento alimentar, quadros depressivos e ansiosos.


A versão completa das Recomendações da Sociedade Portuguesa de Neuropediatria para a utilização de ecrãs e tecnologia digital em idade pediátrica encontra-se para consulta.

Tiago Proença dos Santos e Mafalda Sampaio
Neuropediatras nas ULS de Santa Maria e ULS de São João
Setembro/2024