O espasmo do choro é uma entidade frequente, que afeta aproximadamente 5% das crianças saudáveis. O primeiro episódio surge, habitualmente, entre os 6 e os 18 meses, mas pode estender-se até aos 6 anos. Embora benignos, estes episódios podem ser assustadores para os cuidadores, pelo que é essencial compreender o que são e como se deve agir.
O que é?
É um episódio que ocorre durante o choro em que a criança, de forma súbita e involuntária, sustém a respiração com consequente alteração da cor da pele (fica roxa ou branca) e do tónus muscular (o corpo fica mole ou duro). Por vezes pode ocorrer perda transitória da consciência e, em situações mais raras, uma convulsão. Habitualmente, o episódio é breve e autolimitado, ou seja, a criança desperta espontaneamente em menos de 1 minuto, recuperando a respiração normal e regressando progressivamente à sua atividade habitual. A frequência dos episódios é variável, desde 1 vez por ano a vários episódios num só dia.
Qual a causa?
Tipicamente o episódio é despoletado por emoções negativas como o medo, a raiva, a frustração ou a sensação de dor.
Em cerca de um terço das crianças com espasmo do choro existe história familiar, o que sugere uma predisposição genética.
Mais recentemente a anemia por deficiência de ferro tem sido associada aos espasmos do choro em algumas crianças.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico, baseado numa história muito típica com um exame médico normal. Habitualmente não são necessários exames complementares para o diagnóstico, estando estes reservados para esclarecimento de episódios muito exuberantes ou em que a história suscita dúvidas.
Em crianças com espasmos do choro em que são identificados fatores de risco para anemia por deficiência em ferro, pode estar recomendada a realização de análises de rastreio no médico assistente.
Como atuar perante um episódio de espasmo do choro?
Como agir depois do espasmo do choro?
Qual o tratamento?
Não está indicado qualquer tipo de medicação para tratar ou prevenir os episódios.
Nas crianças com espasmos do choro que apresentam anemia por deficiência de ferro, a suplementação com ferro está indicada uma vez que parece reduzir a frequência e a intensidade dos episódios.
Qual o prognóstico?
A frequência dos espasmos de choro diminui com a idade, com tendência a desaparecem espontaneamente com o tempo, sendo raros em crianças acima dos 6 anos de idade.
É uma situação benigna que não deixa sequelas e não interfere com o desenvolvimento psicomotor da criança.
Referências bibliográficas:
1. Melo S, Chorão R. Espasmos de choro: problema de comportamento? Nascer e Crescer 2010; 19 (1): 20-24
2. Internal Clinical Team, NHS Digital. Breath-holding in babies and children. National Health Service (England). Última revisão a 02.mar.2023. Acesso a 30.set.2024. Disponível em https://www.nhs.uk/conditions/breath-holding-in-babies-and-children/
3. Flodine TE, Shah M, Mendez MD. Breath-holding spells. StatPearls 2024 Jan. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK539782
4.Wilfong A. Breath-holding spells. UpToDate. Última atualização em jul.2024, revisão da literatura atual até 30.set.2024, disponível em https://www.uptodate.com/contents/breath-holding-spells/print?source=history_widget
Elaborado por:
Joana De Beir, Médica Interna de Formação Especializada em Pediatria, Unidade Local de Saúde de Coimbra
Orientado por:
Marta Mesquita, Médica Pediatra, Unidade Local de Saúde de Matosinhos
Texto elaborado para o Portal C&F - SPP, junho de 2025 ©