A hepatite é uma inflamação do fígado, um órgão do nosso corpo fundamental na produção e processamento de diversas substâncias, e que desempenha também um papel importante na digestão dos alimentos. Quando está inflamado, o fígado pode não conseguir realizar em pleno as suas funções, o que pode levar ao aparecimento de sintomas. A inflamação pode ser aguda ou crónica.
Nos países desenvolvidos a hepatite é uma situação pouco frequente em idade pediátrica.
São várias as causas que podem levar à inflamação do fígado, sendo as infeções por vírus a causa mais frequente nas crianças.
Os vírus que classicamente causam hepatite são os vírus da hepatite A, B, C, D e E. No entanto, muitos outros vírus, responsáveis frequentemente por sintomas respiratórios ou gastrointestinais, podem causar inflamação ligeira e transitória do fígado.
Em Portugal, graças à vacinação universal para o vírus da hepatite B e ao rastreio sistemático das grávidas, praticamente não se registam casos de hepatite B e C em idade pediátrica. As hepatites A e E também são muito raras (ultimo surto de hepatite A ocorreu há mais de uma década) devido à melhoria das condições sanitárias, uma vez que o vírus se transmite através de água ou alimentos contaminados.
Existe uma vacina eficaz contra a hepatite A, que está indicada em situações particulares, nomeadamente viagens para zonas onde esta hepatite é muito frequente.
Mais raramente a hepatite pode ser causada por medicamentos, substâncias tóxicas, ou doenças autoimunes ou metabólicas.
Muitas vezes a criança com hepatite não apresenta sintomas. Quando estes estão presentes, as manifestações mais típicas são: icterícia (cor amarela da pele e dos olhos), urina escura, dor abdominal, náuseas, vómitos e cansaço. Durante a observação da criança pode notar-se um aumento do volume do fígado.
Nas crianças com sintomas o diagnóstico faz-se através de análises ao sangue para avaliar os níveis das transaminases (enzimas do fígado). Ocasionalmente a inflamação é detetada em análises efetuadas por outros motivos.
Para saber a causa dessa inflamação é necessário fazer uma investigação mais completa.
O tratamento depende em primeiro lugar da gravidade dos sintomas e da causa. Na maioria dos casos de hepatite aguda associada a infeções víricas não é necessário qualquer tratamento específico, apenas o controlo dos sintomas associados à infeção.
Situações específicas como hepatites crónicas (por exemplo hepatite C, hepatite autoimune) têm tratamento farmacológico específico e devem ser acompanhadas por médicos especialistas nesta área.
A maioria das crianças com hepatite aguda recupera espontânea e totalmente em até três meses. É necessário agendar uma consulta de vigilância para repetir as análises de sangue. Nas crianças em que estas alterações persistem, está indicada a observação em Consulta de Gastroenterologia ou Hepatologia Pediátricas.
Uma minoria, poderá ter sintomas mais graves, com necessidade de internamento hospitalar, e tratamento mais diferenciado. São muito raros os casos que evoluem para falência hepática com necessidade de transplante de fígado.
A 15 de abril de 2022 a Organização Mundial de Saúde lançou um alerta sobre o aumento do número de casos de hepatite aguda grave em crianças saudáveis. Até ao momento o maior número de casos ocorreu na Europa, sobretudo no Reino Unido e foi mais frequente entre os 3 e os 5 anos de idade. A causa desta hepatite é ainda desconhecida, os sintomas são os anteriormente descritos e mais de 90% das crianças recuperou espontaneamente.
Não existem recomendações atualizadas sobre a evicção escolar de crianças com hepatite. Em geral quando a esta estiver assintomática poderá voltar a frequentar seu estabelecimento de ensino.
Em caso de dúvidas, consulte o seu Médico.
Elaborado por:
Marta Oliveira Martins. Médica Interna de Formação Especifica em Pediatria.
Orientado por:
Mónica Oliva. Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria.
Isabel Gonçalves. Assistente Hospitalar Graduada de Pediatria, Coordenadora da Unidade de Hepatologia e Transplante Hepático Pediátrico.
Hospital Pediátrico – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
Referências bibliográficas:
Texto elaborado para o Portal Criança e Família - SPP, 30 abril 2022