O que é a gastroenterite aguda?
A gastroenterite aguda (GEA) é uma inflamação da mucosa do trato gastrointestinal causada na maioria dos casos por vírus, podendo, em casos mais raros, ser causada por bactérias ou parasitas. Os sintomas incluem diarreia, náuseas, vómitos, dor abdominal, redução do apetite e febre. Pode surgir desidratação quando a perda de líquidos provocada pelos vómitos e diarreia é superior aos líquidos ingeridos, sendo os bebés e as crianças pequenas mais suscetíveis a esta desidratação. Contudo, a maioria tem uma doença autolimitada, recuperando espontaneamente e, muitas vezes, sem necessidade de observação médica.
Factos associados à GEA
As GEA são contagiosas:
Verdade! Como a maioria dos casos de GEA é infeciosa, trata-se de uma doença contagiosa. A via de transmissão mais importante é a fecal-oral, ou seja, através das mãos contaminadas após mudas de fraldas e/ou nas idas à casa de banho. Os principais fatores de risco são o contato próximo com pessoas infetadas e mais raramente a exposição a alimentos ou água contaminados. No caso das crianças, a creche, jardim de infância, escola e a sua casa são os principais locais de contágio.
Não se deve oferecer líquidos logo após um vómito:
Certo! Se a criança beber líquidos logo após um vómito, há risco de voltar a vomitar. Deve ser feita uma pausa alimentar de cerca de 30 minutos e posteriormente iniciar-se a hidratação oral de forma fracionada. Deve ser oferecido preferencialmente soro de reidratação oral, em pequenas quantidades, a cada 5 minutos. Pode ser utilizada uma colher de chá ou uma seringa de 5ml. Este soro de reidratação está disponível na farmácia e é de venda livre.
Não há um tratamento específico para a diarreia:
Certo! Não há tratamento curativo para a maioria dos casos e, mesmo nos casos causados por bactérias, só está indicado tratamento com antibióticos em situações muitos específicas (ex: doença grave, imunodeprimidos, infeção por Salmonella em bebés com idade inferior a 3 meses). O mais importante em todos é repor os líquidos perdidos através da diarreia e/ou vómitos para prevenir a desidratação e aliviar sintomas como a febre e as náuseas.
Na GEA, a diarreia pode durar até 2 semanas e, em alguns casos, pode ter sangue:
Sim! Habitualmente a diarreia dura entre 5-7 dias e não mais do que 2 semanas. Alguns dos agentes causadores mais comuns podem provocar diarreia com sangue vermelho vivo em pequena quantidade, de resolução espontânea e sem repercussão sistémica.
Mitos associados à GEA
A GEA é uma doença benigna e não acarreta riscos:
Falso! Na maioria dos casos, a GEA é de facto benigna e autolimitada. Contudo, pode causar desidratação grave com necessitade de hidratação endovenosa. Alguns dos sinais de alarme são: boca seca, olhos encovados, diminuição das micções, irritabilidade e prostração.
É preciso realizar exames complementares para o diagnóstico da GEA:
Não! O diagnóstico de GEA é clínico, através da história clínica e do exame objetivo. Os exames são necessários quando há dúvidas no diagnóstico, necessidade de internamento, sinais de alarme ou para avaliação da epidemiologia da doença.
Deve oferecer-se "bebidas de cola" ou "ice-tea":
Falso! Devem ser oferecidos líquidos, em pequenas quantidades de cada vez, mas de preferência soro de reidratação oral, para repor as perdas causadas pela diarreia e/ou vómitos.
Está indicada uma dieta restritiva, incluindo evicção do leite:
Não! Deve ser mantida a dieta habitual da criança, evitando apenas alimentos ricos em gordura e açúcar. Deve ser mantido o leite que a criança ingere, o que se torna particularmente importante no caso do leite materno. É normal haver uma redução do apetite, pelo que não se deve forçar a criança a comer. Inicialmente, a alimentação deve ser oferecida de forma fracionada, priorizando os líquidos. O apetite melhora a par da recuperação dos restantes sintomas.
MENSAGENS-CHAVE
Palavras-chave: gastroenterite aguda; diarreia; vómitos; desidratação; pediatria.
Referências bibliográficas
Elaborado por:
Cátia Martins, Médica Interna de Formação Específica em Pediatria, Hospital Pediátrico - Unidade Local de Saúde de Coimbra
Orientado por:
Mariana Domingues, Assistente Hospitalar de Pediatria, Hospital Pediátrico - Unidade Local de Saúde de Coimbra
Texto elaborado para o Portal Criança e Família - SPP, setembro 2024©