Os andarilhos infantis (também chamados de “voadores”, “aranhas” ou “andadores”) são dispositivos compostos por um assento suspenso rodeado por uma estrutura rígida que é conectada a rodas, permitindo que o bebé impulsione os pés no chão, deslocando-se de forma independente.
Estes utensílios, habitualmente usados entre os 6 e os 15 meses de idade, foram tradicionalmente divulgados como produtos que incentivariam os bebés a aprender a andar e, por outro lado, os manteriam entretidos enquanto os pais se dedicavam a outras tarefas. Contudo, estes criam uma falsa crença de segurança, permitindo aos pais ficar mais “descansados” e, muitas vezes, deixar a criança sem supervisão adequada, o que pode culminar em múltiplos acidentes.
Existem duas características dos andarilhos que os tornam particularmente perigosos:
Efetivamente, os andarilhos estão associados a um maior número de lesões e acidentes do que qualquer outro acessório infantil, motivando um elevado número de admissões nos Serviços de Urgência. Os traumatismos na cabeça e pescoço ocorrem em até 90% destes casos, seguidos de lesões da boca, dos dentes ou fraturas dos membros. Estão, inclusivamente, descritas mortes associadas à utilização destes utensílios.
Conforme comprovado em vários estudos, e contrariamente ao pretendido, a utilização de andarilhos não estimula o desenvolvimento psicomotor da criança e pode mesmo associar-se a um efeito oposto ao atrasar a idade de aquisição autónoma da marcha.
O desenvolvimento motor das crianças ocorre de uma forma sequencial, tendo em conta o seu tónus e desenvolvimento muscular: primeiramente o bebé adquire controlo da cabeça, depois aprende a sentar-se, a gatinhar ou arrastar-se, e só depois a colocar-se de pé e a caminhar. Assim, colocar uma criança que ainda não adquiriu todas estas competências na posição de pé, num dispositivo que se “arrasta” livremente, irá promover posturas desadequadas dos pés e pernas (Fig. 1), impedir o treino da força muscular dos membros inferiores e levar a uma aprendizagem errada do movimento coordenado das articulações e músculos necessário à marcha. Desta forma, é perceptível que as crianças que usem andarilhos tenham mais dificuldade em gatinhar e andar do que aquelas que nunca os utilizaram!
Fig. 1: Posturas incorretas e padrões de marcha anormais adquiridos pelas crianças nos andarilhos. Disponível em https://doi.org/10.1177/2333794X19876849
A utilização de andarilhos é desaconselhada pela maioria das organizações internacionais especializadas em Pediatria, que cada vez mais apelam à proibição da sua divulgação e venda, algo que já se encontra legislado em alguns países, tal como o Canadá.
Também em Portugal, o Ministério da Saúde desaconselha este equipamento e alerta sobre os riscos da sua utilização no Boletim de Saúde Infantil e Juvenil, onde se pode ler: "Os andarilhos provocam muitos acidentes: quedas, entalões, queimaduras, pancadas na cabeça, e não ajudam a andar, pelo contrário, podem atrasar" (página 24).
A Aliança Europeia para a Segurança Infantil recomenda a utilização de outras alternativas mais seguras, como por exemplo:
Cuide do seu filho, opte pela prevenção!
Referências bibliográficas:
1. European Child Safety Alliance and ANEC joint position statement: Baby walkers;
2. Consumers: European Commission adopts EU standard for baby walkers to prevent infant accidents (Bruxelas, 13/01/2009);
3. Quedas em crianças e adolescentes: as estratégias de prevenção. Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI);
4. Sims A., et al. Infant Walker–Related Injuries in the United States. Pediatrics October 2018; 142 (4): e20174332. doi: 10.1542/peds.2017-4332. Epub 2018 Sep 17;
5. Schecter R, Das P, Milanaik R. Are Baby Walker Warnings Coming Too Late?: Recommendations and Rationale for Anticipatory Guidance at Earlier Well-Child Visits. Global Pediatric Health. 2019;6. doi:10.1177/2333794X19876849.
Elaborado por:
Patrícia Campos, Interna de Formação Especializada em Pediatria, Unidade de Saúde Local da Região de Aveiro
Orientado por:
Marta Mesquita, Assistente Hospitalar de Pediatria, Unidade de Saúde Local da Região de Aveiro
Texto elaborado para o Portal C&F, SPP 27 de julho de 2024©